quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Farol de Perdição

E se eu te der este corpo
pelo qual teus olhos brilham?
teu horizonte envolto na nuvem de tua vontade
que ora densa
logo se dissipa.
o perigo no seio do teu abrigo
escondido pelo desejo que te cega e te traz aqui.


Este corpo que é tua paz e teu descanso
teu inferno e teu espanto.

Se eu te der este corpo
pelo qual tuas mãos dançam?
a forma perfeita que se encaxaria em ti
sem recusas e sem pudor
o negro no teu vermelho
o abismo da paixão que te devora.

Este corpo que é teu canto e tua alegria
teu desepero e tua agonia.

Se eu te der este corpo
conseguirás olhá-lo, tocá-lo e beijá-lo
com a feroz delicadeza que é precisa?

Conseguirás controlar teu corpo histérico
frente ao êxtase de poder possui-lo?

Este corpo que é tua luz e tua salvação
O farol de tua perdição...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

silêncio
 
calam-se os olhos e os espaços

enquanto o silêncio se ocupa
a ensaiar
a habitar
a explorar
tu habitarás entre as sombras do meu corpo

calam-se os olhos e os espaços

enquanto jogas com os meus sentidos
a ensaiar
a habitar
a explorar
eu servir-te-hei serena

calam-se os olhos e os espaços

enquanto cozinhas as minhas vestes
os meus passos
os meus braços
o meu fogo
eu nada direi

porém
infestarei de angústia o silêncio

e a perfeição da tua voz
do teu traço
que não calará os vazios
abrirá as portas do meu céu
 
(XANNAX)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Bonde

sentir
sentir basta
a reflexão, a metafísica
despertam a Alma
e a Alma precisa adormecer
quando o Corpo está desperto

eu procuro sentir tudo
mesmo tendo ciência de que tudo passa
às vezes rápido demais
às vezes, devagar demais

mas enquanto não passa
sentir é tudo o que resta
enquanto se pensa as coisas passam.

Eu quero estar dentro do bonde.

O Limite

sou Corpo
e o sendo apenas
tudo o que sei e sinto
é através dele

o que vejo e toco é o real
o cheiro e o gosto, lembranças
o que ouço, mentiras talvez

meu limite é o Corpo
não posso ir além do que ele é capaz

sou Corpo - não um corpo
ser Corpo é ser o que se é
um corpo é algo qualquer
sou o que sou
Corpo
minha vida começa e termina
nele.

Alma?

a Alma é triste
é o que dentro de nós
condena e reprime
a Alma é abstrata
e por isso, talvez não seja
a Alma é a dúvida
é o julgamento, é a censura
a Alma é o Medo
é o que chora e lastima
a Alma é o que lamenta.
"Mas era justamente o fraco que devia ser forte e partir quando o forte fosse fraco demais para poder ofender o fraco."
Milan Kundera,  A Insustentável Leveza do Ser
olho meu corpo sobre a cama
como pode ele saber todos os passos?
como pode ele ocupar todos os espaços?
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Olho meu corpo no espelho
saberá ele os passos?
saberá ele ocupar os espaços?